A gente se perde, mesmo quando precisa se encontrar

A noite estava fria e eu inquieta. Um turbilhão de sentimentos dentro de mim, precisava escrever algo para desabafar. Precisa sair por ai e encontrar uma explicação pra tudo isso. Peguei meu casaco, meu caderno, caneta, cigarros e uma garrafa de vinho.

Sai andando pela cidade vazia, já era noite, interior, frio, não se tem muitas pessoas na rua. Sem saber pra onde ia deixei meu coração me guiar. Coração e cabeça em outro lugar. Quando dei por mim uma luz de farol de carro vindo em minha direção. Não conseguia ver quem era. À medida que o carro ia se aproximando sua velocidade diminuía. Chegou ao meu lado.

- Quer carona? Disse ele

- Não sei pra onde vou. Estou sem rumo.

- Também estou, a gente se perde por ai.

Entrei. Entrei mesmo sabendo que ele é o causador de toda essa loucura de sentimentos. Entrei mesmo sabendo que deveria correr dele. Entrei mesmo sabendo que não ia conseguir resolver nada e sim arrumar mais problemas e sofrimento. Entrei mesmo sabendo que a partir daquele momento já não estava mais perdida. Entrei sabendo que no fundo encontrei o que tanto procurava. O que tanto quis.

Saímos sem rumo e paramos em uma estrada. Ficamos. Matamos a saudade que tanto nos matava. Ele me abraçava cada vez mais forte e falava bem baixinho no meu ouvido que eu era sua pequena. Pedia para que eu nunca mais saísse dali, que nunca mais me afastasse dele. Eu queria, queria muito que tudo aquilo nunca mais acabasse, que aquele momento fosse eterno. Mas não era. No outro dia ao acordar iria me sentir um lixo por mais uma vez não ter dito não. No outro dia eu estaria sozinha novamente como sempre fui. No outro dia teria que lidar com a saudade e a realidade de saber que ser eterno é algo que mais iria acontecer.

Heloísa Lugão