O
melhor durante toda a minha vida foi à casa da minha avó Hilda. Foi o melhor
lugar até a morte dela. Lá era o meu refugio, fugia de casa e ia pra lá ( minha
mãe sempre me achava), adorava dormir com minha avó e lembro que todos os dias
ela saia cedinho para ir rezar o terço na igreja. Lá era o ponto de encontro da
família, onde todo o domingo tinha festa. Lá sempre tinha alegria, mas também
tinha brigas. Tinha muitas comidas, aconchego e um cheiro que só lá tinha. Lá
eu brincava, comia sopa todas as noites, bebia suco natural em todos os
almoços, era defendida por ela, via o que queria na TV, ela me dava banho e
falava que minha mãe não cuidava direito de mim (eu concordava RS). Tinha uma
pracinha na frente onde ao dia brincava e a noite tinha medo de passar por lá
por ser escura. Uma varanda na frente que sentávamos no fim do dia para
conversar e uma varanda nos fundos que fazíamos as refeições.
Durante
muito tempo a minha bisavó Dudu morou lá também. Uma senhorinha engraçada que
escondia chocolate por debaixo do colchão. Uma senhora italiana que sempre me
contava sua vinda da Itália para o Brasil. Que sempre me cobrava pelos
namorados e falava que eu iria ficar pra titia. Que vivia em guerra com meu avô,
seu genro, e era extremamente engraçado. Uma senhorinha que não ouvia muito bem
(ouvia o que queria), mas que enxergava que é uma beleza. Tinha uma cadeira de
balanço na varanda que era super disputada. Que ia deitar-se às 19 horas,
todavia se você entrasse no quarto dela à 01 hora da madrugada esta acordava e
conversava com você.
Lá,
sempre foi o paraíso. Lá eu realmente era feliz e não sabia. Lá os problemas
não tinham vez. Lá era paz, alegria, amor e aconchego. Gostava mais de lá do
que da minha casa.
A
bisavó se foi e depois a vó e nunca mais consegui ficar mais de meia hora lá
naquela casa. As essências dela se foram, a casa ficou fria e vazia. Entrava lá
e parecia que via minha avó andando e falando, na cozinha cozinhando ou no
banheiro secando seus cabelos como de costume. E ai era inevitável lágrimas
caírem. Depois disso não era mais feliz ali, era triste. Tinha uma saudade que
doía, daquelas que apertam o coração e sufocam. Daquelas que só passa quando a
pessoa diz “passou, foi só um sonho ruim”. A dona dessa saudade nunca iria falar
isso, ela não poderia mais voltar e me dar um beijo na testa e dizer que tudo
aquilo de ruim acabou e voltaríamos para a felicidade.
De
tudo que minha avó me ensinou a luta pela vida foi a maior delas. Ela lutou
contra sua doença até os últimos segundos. Ela sofreu muito com sua enfermidade
e todos os dias agradecia pelo dom da vida. Ela tinha uma doença que não tinha
cura, o problema dela era só Deus para resolver. E mesmo assim lutava e
agradecia por mais um dia de vida. E ela sorria!
Depois
que elas se foram pensei em várias formas de comprar a casa e dar para minha
mãe. Pensei em me inscrever no BBB, jogar na Mega Sena, mas nunca consegui a
grana. E agora a casa está à venda ou já vendida, não sei ao certo.
Eu
queria poder morar ali para estar mais perto da minha avó, mesmo ela visitando
semanalmente nos meus sonhos, mas agora não tem como mais, agora é de outro.
Fiquei
muito triste por saber que outras pessoas irão morar lá. Contudo descobri que o
melhor lugar que uma pessoa morar é em nosso coração e na memória e isso a
minha avó tem residência fixa. Mas também fico feliz pelos próximos moradores,
porque tenho certeza que estes serão felizes assim como todos nós fomos lá.
Heloísa
Lugão
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