Anne
nos últimos dias estava de bad, de bode, mal, pra baixo. Sentia-se gorda, feia,
inchada, cafona, relaxada, burra, sozinha e todos outros defeitos possíveis no
mundo. Pensava que era apenas uma tpm, mas aquilo já perdurava por semanas. Era
mais uma nova fase. Uma fase que por sinal estava sentindo-se acabada,
derrotada. Sabe aquelas cenas de filme onde a mocinha sai do quarto com o
cobertor na cabeça, de pijamão, meia colorida e descabelada? Esse era o look
nos finais de semana da moça.
Sua
casa nos finais de semana estava ficando cheia de amigos e ela mesmo assim
sentia-se sozinha. Aconteceu em um sábado onde todos estavam na sala
conversando, rindo e ela no quarto vendo filmes. Alias, sua programação era
apenas filmes, onde assistia entre quatro filmes por dia.
Das
piores da solidão o que mais sentia era a falta de si. Por isso que mesmo
cercada de pessoas se sentia só. Não eram quaisquer pessoas, eram seus amigos,
família.
Não
pensava em uma maneira de mudar aquela fase. Apenas corria de tentar solucionar
o problema. Nos finais de semana via filmes o tempo todo, durante a semana se
jogava no trabalho onde fazia um extra sem ganhar extra para não pensar.
Com
isso pôr-se de castigo. Só sairia dali quando melhorasse. Precisava pensar,
mudar essa situação urgente. Ela queria de novo o brilho no olhar, o sorriso
contagiante, o jeito leve de viver e estar bem não só com o mundo, mas com ela
mesma. Sentia-se tão mal com ela mesma que queria que toda aquela sensação ruim
fosse como uma roupa onde ela tira, joga fora e pega outra nova, bonita e
limpa.
E
como toda moça levada Anne direto estava fugindo do castigo e não estava
fazendo um bom uso do mesmo. Pensou em ser mais rígida com ela mesma. Pronto,
decidiu ficar um final de semana sem tecnologia. Nada de whatsapp e nem
facebook por pelo menos um final de semana. Vamos sumir dos olhos de algumas
pessoas.
Na
chuvosa noite de sexta-feira a moça iria encontrar-se com três amigas para
conversarem. Havia muito tempo que elas não sentavam e conversam. Cada uma foi
atualizando a vida até que uma virou-se para Anne e perguntou qual o motivo de
tanta bad. Anne contou e à medida que ia contando as coisas iam clareando em
sua cabeça. Os conselhos das amigas também a ajudaram. Falar com outra pessoa
sobre nossos problemas é muito bom, uma vez que ao falar nós mesmos chegamos a
algumas conclusões e também podemos de brinde ter uma ajuda de quem está por
fora e não vê o problema como vemos.
Naquela
mesma noite a moça reativou o facebook e voltou para o whatsapp. Não adianta
correr. Não adiantava sumir, fugir. Quando ela voltasse os problemas dela
estariam lá a sua espera. Ela precisava encarar.
Ledo
engano dizer que precisava ficar sem essas tecnologias porque precisa de mais
tempo. Porque longe delas conseguiria terminar de ler seus quatro livros,
assistir a lista de filmes que separou e começar a ler a pilha de livro que
estava em sua estante. Ela precisava se organizar, planejar horários,
distribuir melhor o tempo.
Não
adianta falar que queria sumir dos olhos de algumas pessoas. É apenas não ficar
ali procurando por noticias, desprezar a existência de algumas pessoas. Sumir
sim dos olhos deles, mas continuar sendo vista por quem realmente a queria bem.
É ficar menos tempo nessas redes, cuidando mais do mundo aqui fora e sem precisar
desativá-las. É provar pra ela mesma o quanto ela é forte, coisa que muitas
vezes duvidava.
A
vida segue e com ela levamos os problemas de brinde. Você tem a opção de fugir,
sumir, se esconder e tem também a opção de querer encará-los de frente e
solucionar todos eles o quanto antes. Anne optou em afrontar contra isso.
Levantar-se mesmo querendo ficar deitada, fazer o que queria mesmo sem vontade.
E lutar todos os dias contra aquilo até que acabasse. Tipo, matando um leão por
dia. Ela tinha muitas coisas para fazer e resolver e não podia dar-se ao luxo
de deixar suas obrigações de lado para ficar curtindo bads ou esperando que
tudo fosse resolver da noite para o dia.
Mas
resolver problemas de solidão interna não é tão fácil assim. Sim, querida Anne
todas nós sabemos. Porém, isolar-se e fazer tudo que você sabe que não lhe faz
bem é bem pior. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
Heloísa
Lugão
Um comentário:
Parabéns pelo ótimo texto!
É bem sutil a mensagem e aplicável em nossas vidas.
Te adoro Gelo!
Postar um comentário