Anne
estava prestes a fazer uma prova que irá mudar sua vida, alias já estava
mudando. Há menos de seis dias para essa prova Anne só sabia pensar em
balanços, buscar equilíbrio, tranqüilidade e adquirir mais conhecimentos.
Ela
já havia comentado com alguns amigos que ao sair daquela prova iria se sentar
no primeiro bar que visse, pediria uma cerveja bem gelada para refrescar a
mente e uma tequila bem forte para aliviar. Pediria também ao garçom para
sentar-se e escutar suas lamúrias. Desta vez ela não iria falar de seus casos
amorosos e sim da vida profissional.
Esse
lado na vida da moça estava muito confuso até alguns meses. Ela não sabia se queria
ser uma grande advogada ou uma nobre professora de português ou talvez uma
simples psicóloga.
No
final do ensino médio ainda não sabia o curso a se matricular até o dia que seu
pai chegou em casa e disse que havia feito sua inscrição de vestibular em um
curso de direito. Anne prestou o vestibular e passou. Seu pai a matriculou e
ela simplesmente freqüentou o curso. Digo que freqüentou, pois ela nunca deu
muita importância para o curso que fez “pelas coxas”. Para se ter uma idéia ela
nem sabia que para virar uma advogada precisava passar pela prova da OAB,
descobriu isso em meados do primeiro período.
Por
diversas vezes durante as aulas ela parava e pensava “o que estou fazendo
aqui?” e não encontrava uma resposta. Matava aulas para dormir, ir às baladas,
namorar. Não estudava. O que a manteve durante os seis anos de faculdade (ela
demorou pelo fato de ter reprovado em algumas matérias e ter trancado o curso)
foram os colegas de classe e o fato do pai nunca admitir a troca de curso. Anne
simplesmente freqüentou ao curso.
A
moça conseguiu terminar o curso, contudo sem a carteira da OAB ela era um “Nada
Jurídico”. Não encontrava um emprego bom e que a pagasse tão bem quanto diziam
por ai. Aquilo a desmotivava mais ainda a dar seguimento na carreira jurídica,
até que um dia ela conseguiu um estágio na área.
Ficou
feliz já que iria trabalhar na área, porém sentia medo. Medo, porque durante
todo seu curso não fez estágio e nem trabalhou em campo. Quando foi
admitida chegou para sua chefe e disse “eu não sei nada, não tenho experiência
nenhuma”. Do mesmo jeito foi admitida e começou a trabalhar em um excelente
escritório de advocacia, regado de pessoas inteligentes e uma chefe que
simplesmente a cobrava muito e a fez tomar gosto pelo Direito.
Naquele
ambiente profissional Anne se sentia muito inteligente e com isso buscava cada
vez mais aprender. Com isso e pelas milhares oportunidades que estavam
aparecendo ela começou a ver que aquilo era o que queria para sua vida.
Diferente
das outras mulheres Anne preferia ser chamada de inteligente a gostosa.
Gostaria muito mais de ser conhecida pelos livros que leu, filmes que viu do
que pelas baladas que freqüentou ou pelas roupas que usa.
Um
de seus maiores desejos era não ser como seus pais no lado profissional. Sua
mãe teve oportunidades, mas fez escolhas erradas. Seu pai não teve muitas
oportunidades e nas poucas que teve também fez escolhas erradas.
Anne
sempre se recordara de quando alguém a conhecia e perguntava o que estudava ou
que fazia e ela dizia que era estudante de direito ou já era formada em direito
e as pessoas faziam caras de como aquilo fosse a melhor coisa do mundo, ou
coisa de gente inteligente, ou coisa de gente chique, Anne não entendia o
glamour daquele curso até que...
Como
estava fazendo um estágio, não estava conseguindo um emprego melhor sem a
bendita carteira vermelha e sua chefe estava cobrando a mesma Anne decidiu na
virada do ano que o ano de 2014 seria o seu ano profissional, que naquele ano
que se iniciava ela iria se virar para mudar esse âmbito da sua vida. Setor no
qual só dependia dela para ser mudado.
Começou
a fazer um curso preparatório para a OAB onde suas aulas eram nos finais de
semana. Pôr-se a abdicar as suas saídas na sexta-feira à noite e até mesmo a
sua vida social. Saiu da academia, estava sem um corte no cabelo, sem unhas
feitas (ela também não parava de roer as mesmas), profundas olheiras e uma
sobrancelha enorme já estava sem tempo de ir ao salão, estava levando como
podia.Estava cada vez mais constantes estudos em pleno sábado à noite. Durante
os seis anos de faculdade ela nunca estudou em um sábado à noite. Durante todo
o tempo de faculdade nunca estudou o quanto estava estudando naqueles últimos
dias.
O
mais engraçado de tudo é que apesar de tudo ela sabia que estava no caminho
certo. Mesmo passando seus apertos, abrindo mão da vida social, dos finais de
semana, ansiedade e nervoso tomando conta ela estava cada vez mais certa de que
aquilo era o que queria para sua vida durante um bom tempo. Ela gostava dos
ensinamentos adquiridos em saber que a cada estudo que finalizava se tornava um
pouco mais inteligente.
Mesmo
se não passasse nessa primeira prova ela sabia que não iria desistir. A palavra
“não” nunca fui motivo para desistência para essa nobre mulher taurina que
fazia jus em ser teimosa como é de característica de seu signo.
Estava
decidida a querer mais, mais cursos e mais estudos. Estava feliz por tudo
aquilo ainda que todos os dias chorasse de medo dessa prova. Ela sabia que isso
era apenas o começo de uma nova fase da sua vida.
Heloísa
Lugão